SOMATIZAÇÃO

Quando a boca cala, o corpo fala!




Você sabia que seu corpo guarda sua história?

Cada organismo nasce com uma forma natural de lidar com o stress e que, com os traumas vivenciados, vai perdendo essa capacidade flexível de retornar ao seu estado saudável.

O objetivo é demonstrar a importância do cuidado e atenção que devemos ter com a forma de expressarmos nossos sentimentos. Levo a refletir sobre o quanto os bloqueios emocionais e a não demonstração dos sentimentos dão origem a quadros de somatizações, e o quanto essas doenças caracterizaram a sua forma de sobrevivência perante os acontecimentos da vida. Direcionando um pouco o nosso olhar para o que Reich denominou como “couraças”.

Reich (1995) nos trouxe uma das maiores contribuições para os estudos sobre o ser humano, a integração dos conteúdos emocionais correlacionando-as com a postura corporal. Ao longo de nossa história, vamos formando no corpo o que ele denominou de couraças. A couraça pode se formar como uma proteção contra muitos estímulos perturbadores e desagradáveis do mundo exterior como, por exemplo: grandes privações ou sujeição à repressão sexual. A couraça, para Reich seria a manifestação corporal do encouraçamento do ego e ainda, a manifestação corporal do recalque.

Em seu estudo sobre couraça muscular Reich (1995) descobriu que tensões musculares crônicas servem para bloquear uma das três excitações biológicas: ansiedade, raiva ou excitação sexual. Ele concluiu que a couraça física e a psicológica eram essencialmente a mesma coisa.

Gerda (1985), complementa diferenciando as couraças, muscular: que é o enrijecimento crônico dos músculos, a visceral: que são os músculos do intestino que perdem a capacidade de resposta às pressões que devem estimular a função psicoperistáltica e a tissular: que são os resíduos metabólicos que ficam nas membranas e nos tecidos. Podemos entender que, essas couraças quando se acumulam de forma crônica e não são tratadas, evoluem para o que chamamos de somatização. Quando uma pessoa não consegue suportar na pisiquê uma situação, ela acaba produzindo ou agravando sintomas e doenças que se manifestam no corpo. Como não conseguem eliminar as tensões de uma forma natural, aparecem essas válvulas artificiais e as pessoas desenvolvem doenças físicas que têm certamente origem emocional.

Por tanto, Somatizar é transformar uma dor emocional em uma dor física através da incapacidade de lidar com o problema emocional. O problema físico, nesses casos, devem ser compreendidos e tratados como tendo a sua origem em um problema psicológico que desempenha um papel importante: o de comunicar ao corpo o que a nossa mente quer expressar, mas que a nossa voz não é capaz de reproduzir.

Em muitos casos, quando uma doença somática não é tratada corretamente, se torna crônica e como consequência, a doença, já em sua forma crônica, faz com que a pessoa evite atividades sociais, acreditando que evita assim o mal-estar e que seus sintomas estarão mais controlados em sua rotina diária. Pouco a pouco, a pessoa vai deixar de lado sua vida por causa de seus sintomas sem procurar tratamentos alternativos como a psicoterapia para atacar a real causa.

Segundo Dahlke (2000), alguns sintomas comuns para exemplificarmos:

* A dor de garganta entope, quando não é possível comunicar as aflições.

* O estômago arde, quando a raiva não consegue sair.

* O diabetes invade, quando a solidão dói.

* O corpo engorda, quando a insatisfação aperta.

* A dor de cabeça deprime, quando as dúvidas aumentam.

* A alergia aparece, quando o perfeccionismo fica intolerável.

* A dor no ombro sinaliza o excesso de fardos e de obrigações.

* As unhas quebram, quando as defesas ficam ameaçadas.

* O peito aperta, quando o orgulho escraviza.

* A pressão sobe, quando o medo aprisiona.

* As neuroses paralisam, quando a criança interna tiraniza.

As doenças psicossomáticas são reais e precisam de tratamento específico e ajustado às características de cada paciente. Uma vez descartadas as patologias orgânicas, os profissionais devem conseguir entender o que o corpo está querendo dizer, porque a boca cala sem dar a razão explicita a nenhuma causa específica.

Assim, entendemos que cada emoção que irrompe no ser humano busca um meio de ser expressa e, para tal, mobiliza o organismo na tentativa de fazê-lo. A carga emocional com sua prontidão para a ação vai ser descarregada ou não, dependendo da relação que se estabelece entre suas características de quantidade/qualidade e as possibilidades que a pessoa e o meio tem de acolher essa emoção. Como, na maior parte do tempo, a expressão de nossas emoções é impedida, tanto interna quanto externamente, cabe ao organismo encontrar um caminho para lidar com os resíduos emocionais e fisiológicos.


O Corpo fala

Partindo do pressuposto de que o ser humano é uma unidade indissolúvel de corpo e de mente e que, portanto, o trabalho com o corpo afeta o psíquico e vice-versa. A massagem e uma das ferramentas que se encontrou para intervir nessa relação corpo-mente.

Uma massagem, é uma relação entre duas pessoas, não é a aplicação de uma técnica a uma massa de carne. É como uma conversa, diferente apenas por realizar-se por via não verbal. Dessa forma, a relação terapeuta-cliente é determinante do sucesso terapêutico e não a técnica empregada, sendo a empatia sua base. A empatia é que estabelece as formas de contato com o cliente, seja por meio do toque ou da fala.

O toque tem, sem sombras de dúvidas, efeito tranquilizador, de alívio, relaxamento, espontaneidade e intimidade, é através dele que realizamos o “estar no mundo”, dando contorno e noções de quem se é no mundo. Com o toque, lhe é permitido um acolhimento tranquilizador que proporciona um fluxo mais livre das tensões, mostrando um caminho de mais intimidade no processo.

E o que também observamos é que o resultado de um tratamento é muito influenciado pela intenção que o massagista coloca no momento da massagem, confiando plenamente na força de auto-cura do cliente que percebe e reage consciente ou inconscientemente e isso pode determinar o sucesso da terapia.

Através de técnicas de massagem energética, procura-se libertar a tensão física e emocional, vai proporcionar uma reorganização dos padrões corporais adquiridos ao longo da vida, ampliando o repertório de percepção através do movimento e do toque, desbloqueando a respiração e com ela o fluxo energético no corpo.
Letícia De Castro


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


REICH, W. Análise do Caráter. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

BOYESEN, G. Entre Psiquê e Soma. Introdução à Psicologia Biodinâmica. São Paulo: Summus, 1985.